Carma é a resposta (efeito) que a Vida nos dá diante de nossas atitudes, isto é, de nossas crenças, do que a gente acredita (causa).
Enquanto mantivermos, cultivarmos determinadas crenças, certos fatos e acontecimentos continuarão se repetindo em nossas vidas.
Freud, criador da Psicanálise, em seu texto: “Recordar, repetir e elaborar”, estudou o mecanismo neurótico.
Ele dizia que todo neurótico tende a repetir, isto é, reproduzir velhos padrões de comportamentos e sentimentos mal resolvidos de experiências traumáticas do passado, reprimidas no inconsciente.
Quando era criança, dos 7 aos 11 anos, cursava o ensino fundamental, isto é, o primário, numa escola pública do Estado de São Paulo.
A professora era uma educadora muito rígida, autoritária, severa e descontrolada emocionalmente, pois, costumava agredir, espancar os alunos com bofetadas, reguadas, e jogava o apagador na cabeça dos alunos quando estes conversavam na sala de aula.
Ela ficava mais violenta nos dias em que entrava na sala de aula com tiques nervosos, isto é, com Toc (transtorno obsessivo compulsivo). Nesse dia, ela me escolheu para ir à lousa.
Ao perguntar as tabuadas de matemática, como não tinha estudado, respondi utilizando o chutômetro.
Para minha infelicidade, a cada resposta errada, sofria corretivos na base de bofetadas, puxões de orelhas e o rótulo de burro, num tom de voz alto, sonoro e estridente.
A dor e a humilhação dessa violência física e moral foram insuportáveis e traumáticas na época.
Achei que tinha superado essa experiência dolorosa de infância.
No entanto, quando tinha 30 anos, ao prestar meu exame para tirar o título de membro certificado em Análise Transacional, um curso de especialização que cursei durante 4 anos, percebi que não havia superado aquele trauma da infância.
A banca de examinadores era constituída por uma psiquiatra e três psicólogos. A psiquiatra era a coordenadora da mesa e foi a que começou fazendo perguntas.
Já no início, antes de ser sabatinado, notei que ela tinha uma “postura autoritária e expressão severa”. Comecei a ficar inseguro e nervoso.
Quando ela me fez as perguntas, me deu um branco, estava totalmente fora de mim, tremendo e nervoso.
Percebendo o meu descontrole emocional, ela me perguntou como eu estava sentindo naquele momento, em frente à lousa?
Respondi que estava nervoso. Ela me perguntou o motivo desse nervosismo?
Disse-lhe que não estava me sentindo à vontade, pois me sentia intimidado com sua “personalidade autoritária”, e isso me incomodava.
Então, ela me perguntou se estava sendo autoritária comigo?
Respondi-lhe que não, mas o seu “jeitão autoritário” é que me incomodava, me intimidava.
Então, ela me indagou: "Você notou que seus olhos estão arregalados? Sua expressão facial é de choro e seus ombros estão encolhidos e tensos?
Que idade emocionalmente falando, você está se sentindo nesse momento?"
Diante dessa pergunta, pude perceber que estava agindo e me sentindo como uma criança, talvez com 7 anos de idade.
Na verdade, eu estava regredido, houve uma regressão espontânea.
Em seguida, ela me indagou se o “jeitão dela” me fazia lembrar alguém de meu passado?
Foi aí que me veio, subitamente, a imagem de minha antiga professora do primário.
O velho Freud de guerra tinha razão. De acordo com o seu texto: “Recordar, repetir e elaborar”, eu estava recordando, isto é, relembrando - através do jeitão autoritário da avaliadora, da psiquiatra – a minha professora do primário (em psicanálise, isso se chama relação transferencial, isto é, eu estava transferindo, associando a figura daquela professora do primário na psiquiatra, que também estava me avaliando).
Da mesma forma que fui castigado, punido por não saber a tabuada, temia que seria reprovado pela coordenadora da banca.
Então, eu estava repetindo, isto é, reproduzindo os mesmos padrões de comportamentos e sentimentos de meu passado quando tinha 7 anos.
Disse à psiquiatra, que o seu “jeitão autoritário” me lembrava a minha antiga professora do primário que me agrediu física e psicologicamente por não responder corretamente suas perguntas.
Então, sabiamente, ela me perguntou: “Olhe bem para mim. Eu sou essa professora?”.
Foi aí que caiu a ficha. Realmente, ela não era a minha professora do primário. Ela não estava sendo autoritária comigo, estava apenas perguntando, fazendo seu papel de examinadora.
Portanto, não fazia sentido temê-la. Subitamente, saí da hipnose, da ilusão mental que me encontrava.
Ela, percebendo minha expressão de alívio, fez uma brincadeira: “Vamos voltar o filme. Entre novamente na sala e nos cumprimente. Faça de conta que não houve nada”.
Após cumprimentar novamente os membros da banca de examinadores, ela fez as mesmas perguntas, só que, desta vez, eu respondi as suas perguntas e dos outros membros da banca, com segurança e desenvoltura.
Felizmente fui aprovado, apesar desse pequeno escorregão de regredir ao meu passado, porque tinha elaborado, compreendido o que havia acontecido comigo.
Então, como dizia o mestre Freud, quando você passa a elaborar, isto é, compreender a causa verdadeira de seu problema, não mais repete os mesmos comportamentos e sentimentos neuróticos do passado.
A partir dessa elaboração, compreendi porque tinha dificuldade de me relacionar com figuras de autoridade como chefes e pessoas autoritárias - sentia-me inseguro, amedrontado no relacionamento com essas pessoas.
Percebi também porque só atraía em minha vida namoradas autoritárias, mandonas e chefes severos, intolerantes, e até perseguidores.
Na verdade, após aquela experiência traumática de minha infância, criei uma crença de que não era capaz, uma pessoa valorosa, digna de respeito. Fui cultivando um sentimento de desvalorização.
Mas como eu materializava essa autodesvalorização em minha vida?
Atraindo pessoas tóxicas, críticas, autoritárias, condenadoras e desvalorizantes, que costumavam destratar as pessoas.
Compreendi que as pessoas, o meio onde a gente vive, os problemas, as dificuldades com as quais convivemos, são determinadas por nossas crenças.
No entanto, quando mudamos as nossas crenças, tudo muda em nossas vidas.
Por outro lado, em muitos casos, a origem dessas crenças vem de várias vidas passadas, e se perpetuam nesta vida. E quando resistimos em mudar essas crenças, querendo mantê-las, cria-se o Carma.
Portanto, carma não é o castigo de quem pecou, mas é o preço da resistência em mudar.
É, portanto, em muitos casos, a repetição de velhas crenças, às vezes por séculos, de ideias que a gente vem alimentando, há várias encarnações, e que já teríamos condições de modificá-las, mas que ainda teimamos em conservá-las, na ilusão de que o novo é perigoso.
Para sair de seu carma de infelicidade, basta renovar suas ideias,
conhecer e descobrir quais as crenças que estão provocando seus problemas.
O recurso da T.R.E (Terapia Regressiva Evolutiva), através da regressão de memória, quando bem utilizado, pode ajudá-lo a buscar a causa verdadeira de seus problemas, fazendo-o revivenciar acontecimentos traumáticos reprimidos no inconsciente e bloqueados pelo consciente, que são aflorados e conscientizados pelo paciente.
Nessa terapia, o terapeuta age como um facilitador, auxiliando o paciente a elaborar o conteúdo inconsciente que emerge no nível da consciência, fazendo-o compreender suas crenças e ajudá-lo a modificá-las para que sua vida possa fluir naturalmente, de forma saudável.
Medo de dirigir carro
Mulher de 28 anos, solteira.
Nunca precisou dirigir em sua vida, e nunca sofreu acidente de carro. No entanto, agora precisava dirigir em função da saúde precária de seu pai para levá-lo periodicamente ao médico.
Não conseguia se imaginar dirigindo. Ficava muito tensa, angustiada e paralisada, só de sentar no banco do motorista e pegar no volante do carro.
Na regressão de memória, viu uma cena de uma vida passada, uma luz que ofuscava sua vista, sentia cansaço físico, falta de ar, sono, calor no rosto, que reconheceu ser o sol batendo em seu rosto.
Ela se viu dirigindo alguma coisa alta, que identificou ser um caminhão.
Pedi para que ela olhasse para suas mãos e braços. Ela via que suas mãos estavam segurando no volante do caminhão, e que seus braços eram de um homem forte, moreno, alto, calçando botas pretas.
Tinha 40 anos, aproximadamente, barba por fazer, vestia uma camiseta regata. Estava dirigindo sozinho, sentia muito calor e cansaço. Lembrou pela aliança que usava que tinha família, esposa e dois filhos.
Dirigia numa estrada longa, sempre reto, igual, e que nunca mudava.
Sentia-se muito cansado, pois já estava dirigindo há muito tempo. Estava indo para o Rio de Janeiro entregar uma carga para uma Indústria. Era, portanto, um caminhoneiro. O ano é 1940. Morava em São Paulo.
Em seguida, vê uma cidade e a praia. Subitamente, sentiu remorso, dor, veio a lembrança de ter abandonado sua família. Mas tinha que fazer essa viagem.
Viu uma cena dele brigando com sua esposa, que não queria que ele fosse viajar. Ela estava com mal pressentimento dessa viagem.
Mas ele estava precisando de dinheiro. Sentia carinho por ela e seus filhos. Pensou: “Eu vou assim mesmo, mesmo a contrariando”.
Bate à porta de sua casa e sai, sua esposa vem chorando, atrás dele, dizendo para não ir. Mas ele sente uma ambição muito grande de ganhar dinheiro.
Pega o caminhão e vai embora. Fica com dó dela... Surpresa, a paciente reconhece, na regressão de memória, que sua esposa dessa vida passada é hoje, sua mãe. Agora entende o porquê na vida atual de sentir tanta culpa ao contrariá-la.
Durante a viagem naquela existência passada tinha vontade de chorar, sentia remorso pelo fato de ter deixado sua família.
Ao entrar na cidade, na curva da estrada, subitamente, viu uma luz forte de um carro que o cegou momentaneamente. Ao desviar-se do carro para não bater, caiu no abismo. Acabou falecendo nesse lugar.
No momento da morte, sentiu remorso por ter abandonado sua família e de ter perdido seus entes queridos. Sentiu-se arrependido por ter contrariado e de não ter escutado sua esposa.
Entendeu, nessa sessão de regressão, que na vida atual, a sensação de perda vem muito forte ao entrar no carro. Daí explica sua fobia por dirigir um carro.
Após essa tomada de consciência, resolveu posteriormente comprar um carro, o que antes da terapia nem cogitava em fazê-lo.
Entrou numa autoescola especializada em ensinar as pessoas com esse tipo de fobia. Teve algumas aulas, surpreendendo o instrutor, pois este não percebeu nela nenhum comportamento fóbico ao dirigir o veículo.
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